UM PARAFUSO TRANCA O FATURAMENTO DE UM BOEING

Artigo escrito pelo Engenheiro de Produção Marcelo Colling – integrante da equipe Integrum.

Lido com a indústria desde 1991, e é muito comum, principalmente no meio metalúrgico, uma série de dizeres que são muito característicos de cada setor. Dentre todas as expressões que eu já ouvi uma me chamou a atenção, e eu a parafraseio quase que diariamente em meus clientes:

“Um parafuso tranca um Boeing!”

Acredito que fazem uns 15 anos, estávamos numa reunião de produção (aquelas onde os setores produtivo e comercial discutem quais os pedidos que sairão no dia ou na semana) e um novo gerente industrial havia iniciado naquela semana, e ele estava criando com o time uma lista de faltas de pedidos, para relacionar “todos” os itens que estavam faltando em cada pedido que estava atrasado. Diante do desinteresse do almoxarife em reportar na lista os itens da curva C do estoque (porcas, parafusos, arruelas), o novo gestor parou a reunião e solenemente anunciou: “um parafuso tranca um Boeing”, e contou que a gigante da aviação mundial passou por um histórico atraso de pedidos simplesmente por falta de um modelo específico de parafuso.

Para a indústria, a entrega de um produto geralmente depende de uma série de componentes que devem estar disponíveis para a finalização do produto. Em uma indústria de máquinas, já me deparei com lista de mais de 8.000 peças que compunham o equipamento, sendo que o mesmo não pudesse ser entregue se não houvessem todas as peças. Em indústrias de menor complexidade, a lista de componentes pode ser muito pequena, mas a falta de uma embalagem ou etiqueta podem impedir que esse singelo produto seja entregue:

Imaginem o carroceiro que vende pipocas na praça sem o pacotinho onde coloca as pipocas dentro?

Não poderá entregar aos seus clientes; ou o carro de luxo, que ficou faltando o adesivo da logomarca do fabricante?

Vi muitas indústrias que adotam os mais variados processos de gestão de estoques e de demandas de componentes, com ótimos resultados de uma forma geral. Mas sempre que me deparei com empresas com problemas crônicos de acuracidade de entrega, grande parte delas falham por negligenciar a curva C do seu estoque. Por serem itens de menor valor agregado e que normalmente são de obtenção mais simples, muitos gestores deixam de lado itens “baratos e de baixa importância” e tomam inúmeras atitudes para evitar faltar itens caros e de difícil disponibilidade, todavia a falta de atenção aos itens C realmente vem sendo a causa de inúmeros problemas de atrasos.

A gestão de curva ABC é uma importante e valiosa ferramenta na gestão de estoque e PCP, entretanto a gestão serve para os 3 índices da curva: A, B e C. Os itens da Curva C, por sua baixa relevância no contexto dos custos, não tem a necessidade de trabalhar com volumes de estoque de segurança no limite, esses itens devem trabalhar com estoque de segurança mais generosos, pois o custo da operação de compras (ato de comprar, frete, inspeção, estocagem) destes é alto em relação ao custo do produto, e manter estoque de segurança mais elevados reduzem esse custo da operação de compras e facilitam os processos de gestão de estoques, permitindo que a equipe possa se focar nos itens das outras curvas.

Todos os detalhes são relevantes em uma indústria, e fazer a gestão de todos eles, nos menores que sejam, demanda que se tenham ferramentas que permitam trabalhar de forma eficiente e assertiva nas tomadas de decisão. Na Universidade aprendemos metodologias de gestão que nos auxiliam a trabalhar nestas soluções, entretanto, numa rotina frenética de indústria, onde podemos estar lidando com mais de 50.000 referências simultaneamente, são necessárias ferramentas robustas que permitam que nossa equipe de materiais e programação possa trabalhar produtivamente, sem que também haja a necessidade de composição de estruturas inchadas para darem conta desta gestão toda.

Nós da Integrum aplicamos as metodologias acadêmicas, aliadas a nossa vasta vivência prática, resultando numa ferramenta muito robusta e precisa que nos permite trabalhar com alta eficiência na gestão de todos os componentes das Curvas A, B e C, o que resultou sempre em melhorias expressivas nos índices de acuracidade de entregas e em reduções nos lead times de entrega.

De fato, confirmamos que a afirmativa “um parafuso tranca um Boeing” é um fato, muito comum em indústrias de todo o mundo, tanto do porte da Boeing ou do porte de Micro Empresas. A gestão ampla e completa de nosso estoque é fundamental para que detalhes muito pequenos não venham a nos dar grandes dores de cabeça.

Eng. Marcelo Colling

Equipe Integrum.